quinta-feira, 13 de março de 2008

À CONQUISTA DE MARTE. Parte I

À CONQUISTA DE MARTE.

SUPERINTERESSANTE Nº 119 MARÇO 2008-03-13

Nós os Marcianos

A sociedade de Marte e alguns cientistas planetários crêem que a primeira missão no Planeta Vermelho deveria consistir em modificar a sua atmosfera e a sua superfície para torna – lo habitável.

Como transformar o Planeta Vermelho numa nova Terra.

Ressuscitadores de mundos.

O passeio importante da historia.

A sociedade de Marte construiu um centro de investigações num deserto árido do Utah (Estados Unidos), onde se estudam os desafios que os primeiros colonos a habitar o Planeta Vermelho terão de enfrentar.

A experiência é simulada ao ponto de os membros da equipe terem de envergar fatos de astronautas antes de saírem das instalações.

MARTE 2008

Embora seja estéril, actualmente

O planeta poderá ser conservado

No sub Solo os elementos necessários

Para podermos devolve – lo à vida.

Alguns cientistas acreditam que já temos a tecnologia necessária para iniciar a terraformação de Marte, um processo que poderá transformar a estéril superfície num éden banhado pelo mar.

A omnipresente tonalidade de laranja – avermelhada ferrugem é visível em todos os picos, crateras dunas, desfiladeiros e vales, até na poeira, que permanece eternamente suspensa na atmosfera sobre o horizonte do planeta.

O entardecer exibe uma luz sublime e há algo de decididamente extraterrestre no ângulo de inclinação das sombras. Marte é vermelho, seco e frio; uma pétrea vitalidade que reflecte a sua verdadeira essência: este é um mundo mineral.

O homem sempre quis saber se ali se produziu, em algum momento qualquer geração espontânea de vida, animal, vegetal ou mesmo de vírus. Parafraseando Kim Stanley Robinson, autor da Triologia Marciana, o que quer que seja que dê inicio à vida, um esporo proveniente do espaço um caldo de cultura surgido de um manancial de enxofre efervescente, a mão de Deus ainda não sabemos se isso aconteceu em Marte.

A verdade é que poderá ter – se verificado, num momento precoce da sua evolução, houve no planeta Vermelho mares, rios, lagos, nuvens, chuva, neve, glaciares, zonas costeiras e canais. Porem tudo isso desapareceu. Hoje, não passa de uma pequena esfera rochosa que está demasiado longe do Sol e cujo núcleo de níquel e ferro que já não gira por abaixo da Crosta é como uma bateria desligada.

De facto por culpa da atmosfera, ficou congelado e subiu até á superfície. O dióxido de carbono passou por um processo de sublimação e formou uma nova e finíssima atmosfera, enquanto o oxigénio ficou colado ás rochas, colorido – as de vermelho.

A água condensou debaixo de terra na forma de permafrost e, no noutros locais, filtrou – se pelo subsolo ao longo de quilómetros até constituir mares subterrâneos cujo destino se desconhece.

Apenas os pólos, cobertos de gelo de água e dióxido de carbono, exibem uma cor diferente do vermelho.

Agora, numa espécie de reverso da história de A Guerra dos Mundos, os terrestres pretendem conquistar essa esfera congelada, onde não há praticamente oxigénio, camada de ozono ou campo magnético, e onde a temperatura mínima ronda os 90ºC negativos, para transformar num vergel semelhante aos Jardins da Babilónia, que combine o esplendor das praias tropicais com a beleza do campo escocês.

Não será fácil. Teremos de enfrentar um local cuja força de gravidade é 2,5 vezes menor do que a nossa, situada a 60 milhões de quilómetros de casa e onde o vento atinge, numa superfície bombardeada por pela radiação, os 150 km/h, gerando tempestades de areia de pó que podem durar anos.

Um exército de engenheiros estuda o caso há décadas e é responsável pelo facto de o conceito de terraformação (um termo que até há pouco não existia nos dicionários) começar a circular correntemente.

A questão é saber se será possível devolver a pulsação a Marte?

Como consegui – lo?

Sobretudo: deveremos faze-lo?

Apto para a vida humana

A receita para ressuscitar um planeta congelado no tempo consiste, basicamente, em aquece – lo, criar uma atmosfera, irriga-lo com água e protege – lo das inclemências.

O processo demoraria 500 a 50 mil anos, consoante a opinião dos diferentes estudiosos.

Seja como for, uma coisa é torna – lo apto para a vida e outra, muito diferente, é fazer com que possa acolher vida humana.

Num relatório publicado pela Revista Nature, já um par de anos o cientista planetário Chris Mckay do Centro de Investigações da NASA, um dos mais respeitados nos Estados Unidos, concluía que terraformar Marte para a humanidade é muito dificil.

Será quase impossível, pois necessitaríamos de muito oxigénio, e esse gás é extremamente dificil de produzir lá em cima.

Está longe do nosso actual horizonte tecnológico.

Mackay insiste nas suas afirmações.

O oxigénio da Terra precisou de milhares de anos para se formar.

Partindo do principio de que podíamos encher Marte de planetas e dar – lhe oceanos com a mesma produtividade dos nossos, teríamos de enterrar enormes quantidades de carbono orgânico para o podermos gerar.

A fotossíntese, levaria por si só, não é suficiente.

Levaríamos 50 mil anos a injectar na atmosfera do planeta o oxigénio de que necessitaríamos, assinala.

“Em contrapartida, será possível para as plantas e restaurar o dióxido de carbono na atmosfera”, explica o cientista. “Como?

Aquecendo o planeta, um processo que conhecemos muito bem.

De facto, é o que estamos a fazer na Terra.

Quanto mais calor introduzimos na atmosfera, mais espessa ela se tornará; quanto mais densa, mais conseguiremos aquece – la.

Nesse sentido sim poderemos fazer com que Marte regresse á vida.

Mckay posiciona – se a meio caminho entre os vermelhos e os verdes; isto é entre os que querem conservar Marte como está até se descobrir se alojou vida e os que pretendem iniciar quando da Terra organismos extremofilos naturais e sintéticos.

Creio que deveríamos criar uma biosfera em Marte, afirma Mckay.

Todavia os ingredientes teriam de ser na medida do possível, indígenas.

Temos provas de que houve água em abundância em Marte, pelo que deduzimos que existiu vida em algum momento.

Penso que haveria uma grande possibilidade de encontrarmos vestígios dela congelada ou morta, para podermos reconstitui – la; melhor ainda, encontrar vida refugiada sob a superfície e deixar que volte a controlar os ciclos biogeoquimicos do planeta.

Na minha opinião levar vida da Terra deveria ser o ultimo recurso.

Se Marte não tiver um genoma, então, sim poderia – mos partilhar o nosso, mas creio que Marte cheio de Marcianos é bem mais interessante do que cheio de terrestres.

Em contrapartida, o engenheiro aeroespacial Robert Zubrin é um verde convicto.

Muito tem escrito sobre a terraformação do planeta vizinho, com a base num conceito antropocêntrico, e até a NASA já adoptou uma versão do seu plano de colonização como referencia para futuras missões.

Zubrin fundou, há dez anos a Sociedade de Marte, a fim de promover viagens tripuladas o mais cedo possível.

Para mim transformar outros mundos em lugares habitáveis para a humanidade é uma obrigação moral, diz.

Todos os seres vivos transformam o espaço que habitam, sejam bactérias ou pessoas.

Hoje enfrentamos um dilema a longo prazo: ou nos decidimos a terraformar outros mundos, ou deixamos languescer irresponsavelmente.

E por isso não é tão complicado como parece.

Basta um asteróide de dimensão maior colidir com a Terra.

Um paraíso marciano

Marte é um local ideal para a nossa civilização, escreveu Zubrin no livro The case for Mars.

Tem tudo: enormes quantidades de carbono, azoto, hidrogénio e oxigénio no subsolo.

Esses elementos só constituem a base de água e do alimento, como são a matéria – prima para produzir plásticos, madeira papel, roupa e combustível para foguetes.

Praticamente todos os compostos com interesse industrial existem no planeta vermelho, incluindo um isótopo do hidrogénio avaliado em dez mil dólares o quilo.

Marte deverá ser colonizado.

Marte é o novo Mundo.

Para John Rummel, responsável pela Divisão de Astrobiologia da NASA, a primeira coisa que deveríamos averiguar antes de modificar o meio Marciano é se existe vida.

Se surgir, será muito interessante descobrir se é nativa esse há algo que a distinga da terrestre.

Nesse caso, teríamos de assegurar que não a contaminaríamos com as nossas bactérias, pois seria provavelmente, a descoberta mais importante na história da humanidade.

Se descobríssemos bactérias marcianas com um ADN semelhante ao terrestre, seria lícito pensar que existiu, em algum momento um intercambio entre ambos os mundos, o que nos tornaria numa espécie de primos direitos interplanetários.

Instalar – se no planeta vermelho seria, nesse caso, como reunir a família para ver o que acontece.

Se não existir vida em Marte, teremos de proceder Á terraformação a partir de uma simples rocha.

Uma vez adaptada à atmosfera, a biomassa entrará em acção.

Terá de fabricar toneladas e toneladas de micróbios, cinobactérias, líquenes e fungos que necessitam de pouco oxigénio e sejam resistentes ao frio, á desidratação, á radiação ultravioleta e ao excesso de sal.

Embora haja numerosos organismos na Terra que toleram algumas dessas condições, nenhum consegue suportar todas em simultâneo.

Por isso será necessário proceder a selecções e modificações genéticas.

A força da evolução

Com a passagem do tempo, os líquenes amarelos poderão ser substituídos por grandes florestas de árvores de até 200 metros de altura, capazes de absorver enormes quantidades de dióxido de carbono e de produzir oxigénio.

Nessa altura, boa parte do planeta estará coberto de água.

A grande depressão de vastas Borealis, no pólo norte, ficará submerso no fundo de um extenso mar.

A vasta cratera de Hellas Planitia ter – se á transformado num lago com oito quilómetros de profundidade.

O sistema de desfiladeiros Valles Marineris uma gigantesca cicatriz de 4500 km de comprimento e 11 de profundidade máxima , será um monumental fiorde.

E o Olympus Mons (o maior vulcão do Sistema Solar com os seus 21 quilómetros de altura e 600 de diâmetro) ter – se á tornado uma ilha com o cume a perder – se nas nuvens e dotado de um ecossistema próprio.

Não é assim tão dificil imaginar Marte com vida. Todos os novos entes genéticos dessa nova biota, seriam seguramente, terrestres, escreve Stanley Robinson, mas o terreno seria narciano.

E o terreno é um poderoso engenheiro genético responsável por determinar o que vive e o que morre, estimulando a evolução de novas espécies.

Á medida que as gerações se sucedem, todos os membros de biosfera evoluem em conjunto, adaptando – se ao terreno numa complexa resposta comunitária.

Esse processo, por mais que temos intervir, está fora do nosso controlo.

Os genes passam por mutações, as criaturas evoluem uma nova biosfera.

Eventualmente, as mentes dos criadores, tal como tudo o resto, também terão mudado.

Continua

Imagens de Nuno Alves, Texto da Revista Super Interessante.

1 comentário:

  1. As vezes fico triste em pensar que não poderei ver isso tudo.

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